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Codificar para Significar [resenha] #tradução

Coding for Meaning

Por mais de duas décadas, Katherine Hayles (Professora de Literatura na UCLA) tem rastreado desenvolvimentos contemporâneos na ciência e tecnologia através de suas interações com os contemporâneos trabalhos literários. Mesmo que se trate de "modelos de campo" na física e química, os domínios do caos e complexidade, ou, mais recentemente, da vida artificial e realidade virtual, os livros de Hayle são alguns dos mais visíveis e, geralmente, guias de referência para as relações entre ciência e literatura. Seu último trabalho, Minha mãe era uma computadora, não é exceção e se foca na capciosa questão de se e em que medida computadores e pensamento computacional determinam o significado de textos literários - ou vice-versa. Ela consegue isso através de uma estratégia dupla de leitura de recentes textos científicos que receberam uma atenção muito difundida (como o de Stephen Wolfram A New Kind of Science) juntamente com outros textos literários mais ou menos conhecidos. Em geral, a força do livro está na escolha estratégica de textos literários e complexas leituras que ela fornece deles - leituras que mostram a habilidade de Hayles em experimentar e repensar estilos de crítica interpretativa de ambos novos e antigos trabalhos. Em contraste, o livro padece em seu compromisso com o trabalho de cientistas computacionais, engenheiros e filósofos, em que a promessa de um compromisso crítico, muitas vezes, abre caminhos para reivindicações anêmicas para "urgentemente repensar premissas" sobre computação e mídia digital. Não é um livro que pesquisa profundamente a história ou temas de importância sobre computadores ou pensamento computacional - não obstante, ele desenha intrigantes conexões que cruzam linhas disciplinares de todos os tipos.

O livro tem três seções, "Making", "Storing" e "Transmiting" - refletindo o interesse de Hayle em usar modelos e metáforas para o que ela chama de "The Regime of Computation" para analisar os argumentos de cientistas, teóricos da mídia e pesquisadores literários de um lado e para performar leituras de trabalhos literários (em que ela inclue, amplamente, uma lista maravilhosa de trabalhos: a história de Henry Janmes "In the Cage"; de Philip Dick "The Three Stigmata of Palmer Eldritch"; Jde James Tiptree Jr "The Girl who was Plugged In"; Neal Stephensons "Cryptonomicon"; o hipertexto de Shelly Jackson "Patchwork Girl"; e o romance Stanislay Lem "The Mask"; e desafiadora obra de ficção científica de Greg Egan), do outro lado.

A primeira seção é a mais promissora. Hayle procura explicar a relação entre "código" e "linguagem" através da análise dos trabalhos de Stephen Woltram, Harold Morowitz, Edward Fredkin, Ferdinand Saussure e Jacques Derrida. A configuração é excitante: propõe algo que é claramente uma pergunta aberta nos campos da literatura, estudos das ciências, estudos das mídias e ciências da informação, em outras palavras, como teorizar a diferença entre código, discurso e escrita, começando pelo material e as bases históricas de cada um. Por exemplo, como exatamente alguém deve entender e especificar a diferença entre a performatividade e o significado de um bloco de códigos de C++ e a performatividade teatral de uma peça? Como essas produções podem ser comparáveis no nível de texto e/ou no nível de execução?

A resposta de Hayle para essa pergunta, que é repetida ao longo do livro, é um pouco abaixo do esperado: código e linguagem "intermediam" um ao outro. Realmente, parece que todas as mídias podem intermediar uma a outra, para Hayles é preciso se focar em coisas mais explicitas nos "complexos loops de feedback" que determinam os significados e estruturas de mídias "inter-mediantes". Seus exemplos de literaturas (Henry James "In the Cage", Philip Dick "Three Stigmata" e James Tiptree "The Girl who was Plugged In") são feitos para servir a um tipo de demonstração dessa tese - cada história lida com um tipo de separação entre um mundo de informação, ou um mundo alucinado pela existência virtual, e um mundo "real" de personificação [embodiment] e linguagem. As leituras habilmente prestadas são fascinantes, mas não está claro se a "intermediação" é demonstrada, ou se, na verdade, constitue uma abordagem diferente dos outros estudos de mídia ou estudos das ciências para avaliar a materialidade da mídia e especificar o software e hardware.

A segunda seção, "Storing" contém uma excelente discussão de vários problemas de interpretação envolvidos na criação de arquivos digitais de livros impressos. Dois projetos, em particular, são destacados para análise: o arquivo de William Blake, e o arquivo de Jerome McGann’s Rosetti . Hayle levanta a questão de se ou não esses dois projetos, em suas preocupações com a re-representação autoritária de edições impressas como documentos digitais, falham em levar em conta a relevância e a especificidade dos meios digitais que eles fazem uso. De acordo com Hayle, é necessário nada menos do que repensar completamente nossas premissas sobre a natureza da textualidade. Aqui, novamente, ela responde a questão de o que diferencia o impresso dos restos digitais em um tipo de intermediação: que um texto é uma "propriedade emergente" da "interação em suas características físicas e suas estratégias significantes" (p. 103). Hayles procura demonstrar como tal propriedade pode ir por ambos caminhos (i.e. que um texto impresso pode ser digital nas suas estratégias de significado e que um digital é como um impresso) através de leituras profundas de um romance e um hipertexto. O romance é "Cryptonomicon" de Neal Stephenson, o qual Hayles diz demonstrar como os computadores digitais podem estruturar a narrativa e significar estratégias de um livro impresso convencional. No caso de "Cryptonomicon", isso é, alegadamente, a oposição de Stephenson à "linha de comando" do Linux (que ele enaltece em uma parte separada chamada "In the Beginning was the Command Line") para as "metáforas gráficas" do Windows e Macintosh, e usando essa oposição, para estruturar a narrativa do próprio livro. Em contraponto a isso, Hayle oferece um romance hipertexto de Shelley Jackson "Patchwork Girl", uma re-costura do Frankenstein the Mary Shelley. De acordo com Hayles, o trabalho de Jackson reencena os debates do século XVIII sobre autoria em um meio radicalmente novo e oferece uma maneira de entender como a "mesma" história em duas mídias diferente e duas eras diferentes podem significar coisas diferentes.

A terceira e última parte, "Transmitting" olha para três casos de "intermediação" entre objetos digitais e a "análoga" consciência humana: a história de Stansliaw Lem "The Mask"; as criaturas virtuais do animador computacional e artista Karl Sims; e a ficção científica de Greg Egan. Essa última parte é difícil de acompanhar - rastrear os conceitos de personificação [embodiment], agência, consciência metafísica através da literatura, entidades computacionais e a filosofia de Deleuze e Guattari. Mesmo que, certamente, exponha um grande número de desenvolvimentos intrigantes e novas literaturas, não é claro onde essa seção, em última análise, termina - ou se se encaixa com as primeiras duas seções, com seus objetivos mais definidos. Todos os três capítulos, nesta parte, parecem sugerir que nós precisamos novas formas de entender como nós (humanos) estamos lidando com nossas (novas) mídias, presumivelmente, em formas diferentes daquelas que tínhamos no passado - e de maneiras não simplistas e utópicas desejo de transcendência ou imortalidade. E, ainda, nenhum dos capítulos propõe uma diferença específica que pode "animar" [animate] tal afirmação (se for mesmo a afirmação feita).

Em geral, My Mother was a Computer é, como os trabalhos anteriores de Hayles, relativamente acessível [and timely accounting] acerca da mudança da cena filosófica e literária - um livro que, alegremente, mapeia conexões através de disciplinas, domínios e questões que poucos pesquisadores estão dispostos em fazer. É um guia valioso para uma série de questões contemporâneas sobre as relações de computação, literatura e personificação [embodiment] humana.

Departamento de Antropologia
Universidade Rice
Houston, TX
USA



Tradução informal da resenha do seguinte livro: N. Katherine Hayles, My Mother was a Computer: Digital Subjects
and Literary Texts. Chicago: Chicago University Press, 2005.
Pp. x + 290. US$22.00 PB.
Resenha escrita por: Christopher Kelty

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