Staying with the trouble [1] é um termo que eu gosto bastante, me lembra um pouco que o mundo é uma merda, mas que temos que aprender a lidar com ele (e, se possível, transformá-lo). Essa expressão, na verdade, aprendi lendo textos e vendo vídeos de Donna Haraway, autora que tanto aprecio.
Hoje, assistindo Se7en - os setes pecados capitais, me lembrei bem desse termo.
Donna Haraway é Professora e Coordenadora do programa de História da Consciência na UC Santa Cruz.
Hoje, assistindo Se7en - os setes pecados capitais, me lembrei bem desse termo.
"Vale a pena lutar por ele". Essa é a questão, staying with the trouble significa que reconhecemos que temos um problema, a questão, neste ponto, é individual, vale a pena lutar por ele? No antropoceno, a tendência é acreditar que estamos fadados ao fracasso, à destruição em massa, desnutrição, inanição. Como já predizem as mais variadas ficções científicas (FC) sobre androides (que querem destruir a humanidade, antes que ela destrua todo o resto, inclusive, ela mesma).
Eu tendo a ser tão fatalista quanto os androides da FC. Quem, neste mundo, pode acreditar que vale a pena continuar a reproduzir a humanidade (procriação) diante tanta desgraça?
Eu, realmente, não sei. Não sei, também, se um dia posso mudar de ideia. Espero que não, pois sei que seria egoísmo.
Ademais, deixo apenas Donna Haraway, especificando as condições de seu staying with the trouble. Vale avisar que o texto é bastante confuso. Haraway sempre mistura suas ideias vindas de outros escritos, como também adiciona analogias às literaturas fictícias, ou teorias da filosofia e biologia. Além disso, é importante lembrar que ela está sempre procurando falar de suas espécies companheiras - sendo ecofeminista - e sobre mulheres, em especial, as indígenas, chicanas, do movimento negro, latinas, etc. Neste caso, é preciso expor que ela busca falar sobre as mulheres que sustentam o capitalismo e são oprimidas por ele (como as imigrantes que trabalham em subempregos nos Estados Unidos, ou em grandes empresas têxteis, em condições análogas à escravidão, ou no Vale do Silício ou outras empresas de tecnologias). As espécies companheiras são, também, os animais domésticos, mas outras espécies que cedem (obrigatoriamente) seus corpos para testes biológicos em vista de evitar problemas para a humanidade - na produção de fármacos, perfumes, shampoos, etc.
Considere ler essa entrevista, em português, com o título: "Se nós nunca fomos humanos, o que fazer?".
"Staying with the Trouble" reivindica trabalhar com duas ontológicas, éticas e ecológicas camas-de-gato das espécies companheiras: 1) as pessoas e outros criaturas do Projeto de Carneiros Navajo (Navajo Sheep Project) que trazem os churros da ibéricos (Iberian Churro) para muitas alianças mundiais inesperadas e conflituosas; e 2) o rápido crescimento mundial do século XXI de galinhas urbanas (frangos) e, especialmente, as mulheres e outras pessoas que dependem e trabalham com elas na Grande Caborone, Botswana, Missoula, Montana e Santa Cruz e os Condados de Monterey, California. Meu foco será trabalhar na relação mundial humano-animal [humananimal worlding] - trabalhando em ambos sentidos, "ficar ligado" [2] e "trabalhando". As zonas de contato multiespécies dessas histórias são onde as ferramentas herdam o trabalho de modo a deixar, forjadamente, o mundo mais tranquilo [3]. A cama de gato é um jogo de padrões de afinidade, de uma mão segurando a esperar receber algo novo da outra [mão], e, em seguida, recebendo algo novo, e propondo outro nó. Cama de gato pode ser jogado por muitos, por todos os tipos de membros [do corpo], enquanto o ritmo de aceitar e receber é sustentado. Estudar também é assim; é passar em voltas e novelos que requerem paixão e ação, se apegar e mover, ancorar e lançar.
[1] Na verdade, o uso da expressão está mais relacionado a pesquisa de Donna Haraway. Eu estou 'informalizando' aqui. Staying with the trouble, de Haraway, está intimamente ligado ao ecofeminismo.
[2] Acredito que, nesta frase, ela quer falar sobre "ter conhecimento" tanto quanto "fazer algo a respeito".
[3] Como testes em animais?
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