Ao som de PJ Harvey.
Textos:
Designing for Repair? Infrasctructures and Materialities of Breakdown
Daniela K. Rosner, Morgan G. Ames
Learning, Innovation, and Sustainability among Mobile Phone Repairers in Dhaka, Bangladesh
Steven J. Jackson, Syed Ishtiaque Ahmed, Md. Rashidujjman Rifat
Repair Worlds: Maintenance, Repair, and ICT for Development in Rural Namibia
Steven J. Jackson, Alex Pompe, Gabriel Krieshok
As experiências de Dhaka, Kavango e Paraguai têm elementos comuns e heterogêneos - são espaços permeados por uma historicidade colonizada, marca por tecnologias e economias desfavoráveis quando comparadas aos Estados Unidos. Essa distinção ficou mais marcada nestes textos, que também pareceram ter uma preocupação maior em pensar os artefatos sociotécnicos, as culturas, mundos sociais e formação de fronteiras. Em algum momento, o conhecimento tecnológico também aparece como um espaço de privilégio.
É interessante pensar esse espaço de privilégio mesmo quando as pessoas retratadas nos estudos não estão no topo da "cadeia econômica" - muitas delas aprenderam numa relação de observação e persistência do dia a dia; ainda assim, há uma rede de conexões que permitia que ela lá estivesse para adquirir este conhecimento. Neste sentido, as diferenças são situadas, mesmo aquelas marcadas por condições similares: como o reparo como perspectiva de mercado de Dhaka ou o reparo como perspectiva de acesso às tecnologias (como os jovens da comunidade de Kavango/Namíbia).
Em 2007, acompanhei uma parte do processo de "1 laptop por criança", no Fisl 8.0, com o laptop colorido que parecia um brinquedo e àquela altura, emergia como um mercado a ser conquistado. No entanto, a experiência do Paraguai nos mostra que há muitos elementos heterogêneos a se considerar no desenho e na estruturação de um computador para crianças - sim, ele precisa ter uma estrutura possivelmente inquebrável, mas também é necessário pensar em outras questões: alguns diriam, é preciso desmistificar a tecnologia. Com a narrativa do empoderamento, o projeto tinha muito para dar certo, mas não deu. "Although these results may point to a hopelessness in designing to enable (or disable) repair-work, as material realities disrupt design intentions, we feel that there is hope, and our findings should not be taken as a reason to abandon efforts to design to enable repair".
RESUMO
Dhaka - Bangladesh: o texto ressalta, continuamente, categorização de elementos heterogêneos que envolve a discussão da interação humano-computador, assim, como também, a contingência, o colapso e recuperações e situações locais envolvidos por cenários distintos que podem incluir, inclusive, guerras. A diferença que vejo na discussão destes textos é que há uma preocupação um pouco mais forte em pensar as políticas e desenvolvimentos econômicos locais um pouco maior que nos anteriores - talvez seja apenas a abordagem -, exploram, por exemplo, as motivações por trás do crescimento de movimentos de "conserto" - alguns com a perspectiva de mercado, outros como movimentação "contra cultura" (neste caso, possivelmente, na direção de um discurso baseado na sustentabilidade). A heterogeneidade preenche a pesquisa em Dhaka - Bangladesh, referente a valores (durabilidade, estabilidade, sustentabilidade); aos elementos (habilidade, inovação, julgamento voluntário); às situações (redes amplas, ecologias de práticas).
Discussões sobre a maneira como o conhecimento é adquirido é presente em todos os contextos: se é nas universidades; se é através da metodologia de aprendiz (observação, trabalho conjunto); se é através de conhecimento adquirido pela internet e comunidades online. Mas, grande parte desse conhecimento vem de fora. As técnicas de reparo são subdivididas em três etapas (da limpeza, dos elementos nos circuitos e da reconstrução) que varia, também, de acordo com o conhecimento de quem a realiza. O reparo é um conhecimento de conserto, de engenharia, mas, também, de colaboração - mesmo assim, alguns trabalhadores concentram esse conhecimento com receio de concorrência no mercado de trabalho.
Em Namibia, os pesquisadores falam sobre mundos sociais e formação de fronteiras - tanto internamente como externamente. O mundo do reparo não difere muito de Dhaka, as pessoas adquirem conhecimento, muitas vezes, através da educação colaborativa (mas, também, da educação formal). O mundo da tecnologia é abordado como um espaço restrito, em que alguns locais só conseguem ter acesso através da intervenção do governo - que também limita quem pode fornecer o conserto/reparo das máquinas. Em Kavango, espaços com computadores doados usados e, muitas vezes, antigos, têm na sua própria comunidade os "reparadores", jovens que foram treinados e que consertam os computadores em troca de poder usá-los para trabalhos ou diversão.
Já no Paraguai, a ideia de um computador por criança emergiu nos idos de 2007. O computador pequeno parecia, de fato, um brinquedo. Tive a oportunidade de conhecer algumas dessas propostas no Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre, em 2007. Embora fosse promovido com a ideia de que poderia ser utilizado por crianças pois sua estrutura seria inquebrável (ou muito próximo disso) e fácil de consertar, a experiência não se mostrou essa. O hardware não era fácil de manipular e muitas vezes "fechado", já que a empresa não tinha interesse nisso. O tela parece ser o aspecto de mais disfunções. O preço também não era tão barato quanto se propunha: enquanto 100 dólares tem um valor nos Estados Unidos, no Paraguai é mais caro, comparativamente com o salário mínimo.
Textos:
Designing for Repair? Infrasctructures and Materialities of Breakdown
Daniela K. Rosner, Morgan G. Ames
Learning, Innovation, and Sustainability among Mobile Phone Repairers in Dhaka, Bangladesh
Steven J. Jackson, Syed Ishtiaque Ahmed, Md. Rashidujjman Rifat
Repair Worlds: Maintenance, Repair, and ICT for Development in Rural Namibia
Steven J. Jackson, Alex Pompe, Gabriel Krieshok
As experiências de Dhaka, Kavango e Paraguai têm elementos comuns e heterogêneos - são espaços permeados por uma historicidade colonizada, marca por tecnologias e economias desfavoráveis quando comparadas aos Estados Unidos. Essa distinção ficou mais marcada nestes textos, que também pareceram ter uma preocupação maior em pensar os artefatos sociotécnicos, as culturas, mundos sociais e formação de fronteiras. Em algum momento, o conhecimento tecnológico também aparece como um espaço de privilégio.
É interessante pensar esse espaço de privilégio mesmo quando as pessoas retratadas nos estudos não estão no topo da "cadeia econômica" - muitas delas aprenderam numa relação de observação e persistência do dia a dia; ainda assim, há uma rede de conexões que permitia que ela lá estivesse para adquirir este conhecimento. Neste sentido, as diferenças são situadas, mesmo aquelas marcadas por condições similares: como o reparo como perspectiva de mercado de Dhaka ou o reparo como perspectiva de acesso às tecnologias (como os jovens da comunidade de Kavango/Namíbia).
Em 2007, acompanhei uma parte do processo de "1 laptop por criança", no Fisl 8.0, com o laptop colorido que parecia um brinquedo e àquela altura, emergia como um mercado a ser conquistado. No entanto, a experiência do Paraguai nos mostra que há muitos elementos heterogêneos a se considerar no desenho e na estruturação de um computador para crianças - sim, ele precisa ter uma estrutura possivelmente inquebrável, mas também é necessário pensar em outras questões: alguns diriam, é preciso desmistificar a tecnologia. Com a narrativa do empoderamento, o projeto tinha muito para dar certo, mas não deu. "Although these results may point to a hopelessness in designing to enable (or disable) repair-work, as material realities disrupt design intentions, we feel that there is hope, and our findings should not be taken as a reason to abandon efforts to design to enable repair".
RESUMO
Dhaka - Bangladesh: o texto ressalta, continuamente, categorização de elementos heterogêneos que envolve a discussão da interação humano-computador, assim, como também, a contingência, o colapso e recuperações e situações locais envolvidos por cenários distintos que podem incluir, inclusive, guerras. A diferença que vejo na discussão destes textos é que há uma preocupação um pouco mais forte em pensar as políticas e desenvolvimentos econômicos locais um pouco maior que nos anteriores - talvez seja apenas a abordagem -, exploram, por exemplo, as motivações por trás do crescimento de movimentos de "conserto" - alguns com a perspectiva de mercado, outros como movimentação "contra cultura" (neste caso, possivelmente, na direção de um discurso baseado na sustentabilidade). A heterogeneidade preenche a pesquisa em Dhaka - Bangladesh, referente a valores (durabilidade, estabilidade, sustentabilidade); aos elementos (habilidade, inovação, julgamento voluntário); às situações (redes amplas, ecologias de práticas).
Discussões sobre a maneira como o conhecimento é adquirido é presente em todos os contextos: se é nas universidades; se é através da metodologia de aprendiz (observação, trabalho conjunto); se é através de conhecimento adquirido pela internet e comunidades online. Mas, grande parte desse conhecimento vem de fora. As técnicas de reparo são subdivididas em três etapas (da limpeza, dos elementos nos circuitos e da reconstrução) que varia, também, de acordo com o conhecimento de quem a realiza. O reparo é um conhecimento de conserto, de engenharia, mas, também, de colaboração - mesmo assim, alguns trabalhadores concentram esse conhecimento com receio de concorrência no mercado de trabalho.
Em Namibia, os pesquisadores falam sobre mundos sociais e formação de fronteiras - tanto internamente como externamente. O mundo do reparo não difere muito de Dhaka, as pessoas adquirem conhecimento, muitas vezes, através da educação colaborativa (mas, também, da educação formal). O mundo da tecnologia é abordado como um espaço restrito, em que alguns locais só conseguem ter acesso através da intervenção do governo - que também limita quem pode fornecer o conserto/reparo das máquinas. Em Kavango, espaços com computadores doados usados e, muitas vezes, antigos, têm na sua própria comunidade os "reparadores", jovens que foram treinados e que consertam os computadores em troca de poder usá-los para trabalhos ou diversão.
Já no Paraguai, a ideia de um computador por criança emergiu nos idos de 2007. O computador pequeno parecia, de fato, um brinquedo. Tive a oportunidade de conhecer algumas dessas propostas no Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre, em 2007. Embora fosse promovido com a ideia de que poderia ser utilizado por crianças pois sua estrutura seria inquebrável (ou muito próximo disso) e fácil de consertar, a experiência não se mostrou essa. O hardware não era fácil de manipular e muitas vezes "fechado", já que a empresa não tinha interesse nisso. O tela parece ser o aspecto de mais disfunções. O preço também não era tão barato quanto se propunha: enquanto 100 dólares tem um valor nos Estados Unidos, no Paraguai é mais caro, comparativamente com o salário mínimo.
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